quarta-feira, janeiro 23, 2013

Após ataque a diretor, ensaios do Bolshoi têm pavor e choro, diz bailarina brasileira


Folha DE SÃO PAULO
"Vidro na sapatilha, tirar colchete de vestido antes do espetáculo, agulha no arranjo de cabelo, tudo isso eu sei que acontece, mesmo parecendo exagero", diz a bailarina brasileira Mariana Gomes, 24. "Já vi muita coisa e já perdoei muitos casos deste tipo, mas, dessa vez, não", afirma, sobre o ataque contra o diretor artístico do Balé Bolshoi, Sergei Filin, 42, atingido por ácido sulfúrico na quinta (17).
Em depoimento à Folha, a bailarina fala sobre a rivalidade que culminou com a agressão e sobre o clima nos ensaios do grupo. "Temos pavor de pensar que pessoas como essas podem estar no nosso camarim, podem estar dançando valsa comigo em algum ato de algum balé."
Fotomontagem
Sergei Filin, antes (esq.) e depois do ataque com ácido em seu rosto
Sergei Filin, antes (esq.) e depois do ataque com ácido em seu rosto
Atacado em frente ao prédio onde mora, no centro de Moscou, Filin sofreu queimaduras de terceiro grau no rosto e na córnea, mas os médicos afirmaram que o ex-bailarino não corre risco de perder a visão.
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"Teatro é um meio cruel, onde nossa carreira é curta, bailarinos são muitos, sonhos maiores ainda e o pior, ambição. Todos amam o que fazem, às vezes nos cansa, irrita, muita força, trabalho, suor e energia gastos e o retorno nem sempre corresponde ao esperado. Já vi bailarinos que se drogam, se alcoolizam, existem casos até que foram parar em manicômios durante turnês. Tudo isso acontece, e entendo bem o porquê estando neste meio. Já vi bailarino andando na rua de tarde, na hora do almoço, e cumprimentando pessoas na rua como se estivesse representando no palco o papel do dia de gladiador. Já vi muita coisa e já perdoei muitos casos deste tipo, mas, dessa vez, não. Não entra na minha cabeça tamanha ambição. Esse exagero é o reflexo do que vem acontecendo com os artistas ali dentro, é o auge, o que faz todo mundo pensar no que está acontecendo. Uma tragédia: Sergei nos últimos dias não enxerga e reage somente a luz, claro e escuro --foi a última notícia que tive dele.
Frequentamos igrejas, acendemos velas, os ensaios começaram com mensagens e choro. Temos pavor de pensar que pessoas como essas podem estar no nosso camarim, podem estar dançando valsa comigo em algum ato de algum balé. Quando cheguei ao teatro Bolshoi, sete anos atrás, Sergei Filin ainda era primeiro bailarino. Lembro quando dancei o balé 'Cinderella' e ele descia a escada do segundo ato no baile sentado no corrimão, escorregando, e a platéia gritava: oooooh! Realmente, técnica, beleza, carisma de causar espanto e, obviamente, inveja.
Anos depois, ele foi diretor do Teatro Stanislavski, segundo maior teatro de Moscou, e chegou como diretor do Bolshoi no auge, com a reabertura do palco histórico, em outubro de 2011. Cargo muito concorrido, antes ocupado por Yuri Burlaka e Alexei Ratmanski. Mas nenhum desses diretores sofreu tal pressão de artistas, imprensa e público. Sergei chegou no momento em que o teatro explodiu, com transmissão on-line e em cinemas, abertura do palco, grandes turnês e muito sucesso.
No meu primeiro ano de Bolshoi, ainda sem falar muitas palavras em russo, lembro que recebi comunicado do teatro de que eu deveria pagar taxa equivalente a US$ 200 para me registrar na cidade legalmente. Eu, estagiária na época, sem salário, chorava no restaurante do teatro sozinha, quando Sergei, aquele primeiro bailarino, príncipe, chegou até mim e perguntou o que havia acontecido. Pela primeira vez alguém tinha tentado falar inglês comigo. Eu contei a situação e ele me disse que resolveria. No dia seguinte, fui chamada ao caixa do Bolshoi, recebi o valor e assinei um recibo de 'ajuda de custo'. Nunca esqueci isso. Depois de anos de trabalho, ao saber que este Sergei Filin seria nosso diretor, fiquei realmente contente. Mesmo sabendo que ele não se lembra dessa história.
Só o que posso fazer é rezar por ele e pelos artistas que amam sua profissão e realmente estão perdendo a noção dos valores da vida. Rezo por essas pessoas que vêm transformando sonhos em pesadelos. Rezo para que esse templo Bolshoi continue sendo um ambiente de paz antes da concorrência, de arte antes do crime. E, com esses sentimentos no coração e lágrimas nos olhos, os espetáculos continuam e nunca vão parar, pois o dever do artista é acalmar e encantar o público, mesmo que por dentro do sorriso esteja mergulhado em dores, dúvidas e medos."

terça-feira, janeiro 22, 2013

Ano novo, vida velha

Bom galera, eu vim desejar um feliz ano novo um pouco atrasado.

Mais um ano se passou, a pequenina cresceu, e ai ver a luz do palco em seus olhos, sua nova esperança floresceu. A porta amarela ao fim do corredor se transformou em uma bela porta de Madeira ao lado da cochia, os uniformes de ensaio se transformaram em belos tutus coloridos e brilhantes, o nao vai dar certo se transformou no nos conseguimos, o pânico se tornou alegria e finalmente a ansiedade em saudade, saudade da sensação de voar ao palco com aquela platéia cheia de rostos conhecidos e desconhecidos, de família e amigos todos para nos recompensar pelo nosso ano de trabalho e ao final de tudo, quando vem a sensação de dever cumprido também vem o vasio das ferias e de estar faltando algo, aquele algo que nos sentimos ao estar de cara a cara com a porta amarela e cara a cara com a luz do palco, aquele nervosismo, aquela intensidade, aquele amor, aquele apoio, aquela amizade. E todo ano você faz a mesma promessa, eu nao vou chorar essa no porque ano que vem tem mais, mas no final você chora pois a sua vida vai mudar e mesmo no próximo ano tendo mais você sabe que nao vai ser a mesma coisa. O ano foi ótimo a experiência foi ótima. As lagrimas derreadas foram ótimas, ficar durante mais de 30 minutos chorando num abraço em grupo e a melhor sensação do mundo. E eu espero que neste ano que esta apenas começando eu posso ter essa sensação boa de ficar durante 4 horas na porta amarela e no final na porta da cochia com as roupas coloridas e brilhantes e todos esses sentimentos confusos e prazerosamente voar ao palco de novo, nao pela ultima vez, mas como se fosse a ultima vez